terça-feira, 17 de junho de 2025

Junho, era bem capaz de me habituar a esta rotina

 

9.09 - Primeiro banho de mar de água gelada mas tão transparente, tão bonita, mergulho entre pequenos peixinhos. Quase ninguém, silêncio tão bom.

9h30m- Chegam as crianças, são muitos grupos e com muitos meninos, há bonés amarelos, azuis, fatos de banho todos iguais em alguns grupos e noutros todos diversos, bem clara a origem social. Muitas vozes, muitos gritinhos...

10h - Chegam os grupos de idosos dos centros sociais, a técnica traz uma bola muito leve e trocam-na entre eles no círculo dentro de água. São silenciosos, mas às vezes escapa uma asneira.

10h30m - Chegam os adolescentes em grupos de 6 a 8, trazem farnel para o dia todo. Atiram-se à agua ao desafio em chapões, como é que a adolescência é tão diferente e ao mesmo tempo sempre igual.

11h Café, cada ano mais caro. Mas a mais bela das janelas.

11h15m -Regresso ao trabalho em casa até pelo menos às 20h.

Infelizmente nem todos os dias de Junho poderão ser assim, bem vistas as coisas era capaz de gostar desta rotina, eu que sou tão avessa a elas.

~CC~

segunda-feira, 16 de junho de 2025

O que de nós fica no mundo

 

Quando os ventos no campo profissional se agitam turbulentos e deles já só esperava mansidão e me zango quando já não me esperava zangar-me, há sempre algo que vem romper a tristeza da situação, normalmente um encontro casual com um jovem ou adulto de quem já fui docente e que entre abraços, às vezes lágrimas, outras pedidos de telefone que sugerem projetos ou criações futuras, me agradece. Nenhum deles sonha que às vezes rompeu um momento de negrume. 

Fico com a certeza de que as pessoas são ainda assim mais capazes de bondade e gratidão que as instituições, estas tendem a ser como os partidos políticos, gigantescas máquinas de trucidar insurgentes, mais atreitas à mentira e à ilusão do que à verdade e ao confrontamento. O que fica de nós no mundo é sempre esse bocadinho que deixámos no coração de alguém.

~CC~

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Vidas com livros

 

Chegou ao fim o Clube de Leitura que dinamizei este ano com estudantes e que resultou de uma candidatura ao Plano Nacional de Leitura. Foi uma experiência tão maravilhosa quanto dura. Dura quando as sessões ficavam quase vazias, maravilhosa sempre que as pessoas apareciam. De resto o conteúdo ou a dinâmica não são o mais relevante, apenas termos gente. Veio uma jornalista ouvir-nos e foi muito bonito, talvez das coisas mais bonitas. Nesse dia lemos um livro infantil baseado na história de vida da Marielle, a ativista brasileira assassinada no Rio de Janeiro. E foi a um sábado à tarde, alguma gente, não tanta quanto desejável, e apesar da minha filosofia ser sempre a de que contam os que estão, às vezes são mesmo poucos.

Duvido das estatísticas que ora apontam euforia ou depressão quando relacionadas com livros. Cresce o império dos livros triviais, sem grande brilho, ainda assim se há quem leia por causa disso, é deixar existir.  A maior parte lê apenas nas redes sociais, pequenas noticias, muitas coisas motivacionais ou de gente famosa ou de infuencers (até me custa usar esta palavra). 

Com tudo isto eu própria cheguei à conclusão que não leio o suficiente, poderia com facilidade escudar-me no excesso de trabalho e estaria a dizer a verdade. Mas não seria a única verdade, poderia não ligar a televisão uma ou duas noites por semana, poderia gastar uma hora por dia a ler numa esplanada. Os clubes de leitura, com tudo o que bom e de mau têm, obrigam-nos a ler um livro por mês (o meu não era assim, seria impossível dinamizar um clube desse tipo no ensino superior, com estudantes). Já comprei o deste mês, surpreendentemente numa semana li um terço, o que me mostrou que é possível. 

Não sei se há desse lado experiências com Clubes de Leitura, mas gostava de saber.

~CC~

Nota: Ainda a propósito de pessoas agredidas pela suas ideias e pela sua arte, Adérito Lopes é actor mas é também um maravilhoso professor de teatro, daqueles que recupera miúdos que há muito parecem descrer da escola e do seu potencial. Um murro nele é um murro na humanidade. 





segunda-feira, 9 de junho de 2025

Das coisas incompreensíveis

 

Ao início da tarde de Domingo, passei de carro e pasmei com a fila enorme de domingo à porta do Russo dos Caracóis. Pensei com os meus botões que há coisas no mundo que não compreendo e esta é uma delas.

Ao final da tarde, quase noite, oiço gritos e palmas na rua. Ligo a televisão e comprovo, a selecção de Portugal está a jogar. Também há coisas que não compreendo sobre mim, uma delas é não saber destas coisas, conseguir não saber uma coisa que todos parecem dominar.

Quem sabe a primeira e a segunda coisa até estão relacionadas. 

~CC~

domingo, 8 de junho de 2025

Um dia girassol, no outro margarida

 


Vejo flores, inundam Junho.

Atrai-me muito o girassol e o seu poder, essa energia vibrante que se vira sempre para buscar o sol e se põe por inteiro nas coisas para as transformar. Mas ao mesmo tempo esse amarelo que pulsa e vibra e tudo parece absorver, assusta, queima, distancia. Aprecio o seu poder mágico, ao mesmo tempo que o receio. Vejo as margaridas pequeninas mas tão poderosas porque muitas juntas criam um tapete que embala o vento. Mas tantas coisas iguais juntas criam a monotonia, um suave tempo que sem diferença é excessivo em harmonia. O girassol é jovem, a margarida uma velhinha. Um dia sinto-me girassol, no outro uma margarida. Um dia quero para mim o girassol, no outro uma margarida. É assim que vivo, entre flores que são diferentes partes do que desejo, sou e quero

~CC~